domingo, 21 de novembro de 2010

Glee, os perdedores


Líderes de torcida e jogadores de futebol ocupam o topo da cadeia alimentar. Nerds e jogadores de RPG, a parte de baixo. Os integrantes do Glee, clube musical de uma escola pública norte-americana? Ah, esses ficam no sub-solo. Pelo menos o que diz a treinadora das cheerleaders, Sue Sylvester, e principal inimiga de Will Schuester, professor de espanhol e diretor do clube Glee.

Claro que estou falando do seriado Glee, que desde sua estreia tem feito um estrondoso sucesso em todo o mundo. Não é pra menos: o seriado inovou trazendo musical de qualidade, misturando músicas clássicas com atuais, aquelas que tocam no rádio ou fazem parte do top da Billboard. O que chama atenção, além disso, é o fato de que as músicas escolhidas sempre têm alguma relação com o momento do enredo, ajudando a compreender os sentimentos e motivações dos personagens do seriado.

Apesar de ter um enfoque musical, Glee possui um enredo que vai evoluindo conforme o passar dos episódios, e passa por temas que costumam afligir jovens em fase de ensino médio: bullying, insatisfação com o próprio corpo, popularidade, ser aceito pela sociedade em detrimento de suas próprias vontades, ou crenças individuais que causam dúvidas, em meio ao turbilhão de opiniões vindas de pessoas acima de você na "cadeia alimentar" descrita no início deste post.

Apesar de tudo correr sob um clima cômico, o
seriado faz muitas críticas implícitas sobre a forma como a sociedade dá suporte ao processo de evolução da personalidade dos jovens. O maior exemplo seria Kurt, o único personagem gay assumido da escola, que frequentemente é atirado contra o armário por conta de sua orientação sexual. Como se isso não bastasse, todas as outras pessoas, inclusive professores, fingem não ver o que acontece com ele diariamente. Mera coincidência com o que vemos no mundo real?

O seriado também conta com outras minorias, como Santana, uma adolescente obesa, que vê sua vida dificultada, num dos episódios, quando tenta se tornar uma líder de torcida. Claro que teria, antes, que passar pelo crivo de Sue Sylvester, que já havia dito que "tudo o que eu quero é somente um dia no ano em que eu não seja agredida visualmente por feios e gordos. Sério, Ohio, essas retinas precisam de folga". Numa das apresentações mais emocionantes da série, em que canta Beautiful, da Christina Aguilera, Santana mostra que todos podem ser felizes do jeito que são, porque todos são diferentes e o mundo seria uma droga se todos pensassem e agissem da mesma forma. Um casal de asiáticos também sofre com o preconceito vindo de loiros de olhos azuis.

O mais impressionante é que, como se trata de um seriado bobinho, à primeira vista, seria de se esperar que o "bem" sempre vencesse no final. Não é o que acontece em Glee. Em muitos dos
episódios você pode se surpreender com eventos trágicos ou, quando está certo de que os membros do clube conseguirão alguma realização importante, tudo pode vir por água abaixo de uma hora pra outra. Não tão diferente do que acontece na vida real, se formos analisar. É por essas e outras que Glee é um fenômeno internacional, e o continuará sendo, como já percebeu Sue Sylvester, que escreve em seu diário, num dos episódios: "Toda vez que eu tento destruir aquela ninhada de respiradores de sarna bucal, ela só volta mais forte. Como algum vilão de filme de terror sexualmente ambíguo".

Pra encerrar, coloco abaixo o vídeo de um mash-up muito criativo feito no último episódio, em que misturaram Umbrella, da cantora Rihanna, com o clássico Singin' in the Rain, do musical homônimo:

Um comentário:

rê disse...

gosto de glee justamente pelos motivos que vc elencou. ah, e essa apresnetação do ultimo episódio realmente foi fantastica!